quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Yours Disappointedly (Volkswagen)

Isto é Publicidade!
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in Daily Express, 26/01/1996

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Estuário do Severn

Andarilho
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Algumas pessoas diriam que este tipo de paisagem não se enquadra nos seus parâmetros de beleza. A minha mãe seria mais peremptória: que feio!, filho. A ausência de verde e a desolação do horizonte facilmente incutirão alguma tristeza no observador. Puro engano, caros leitores. Esta paisagem enlameada e estéril é sublime.
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Estamos perante o cenário da maré baixa no estuário do Severn (maior rio britânico, com 354 quilómetros de extensão), canal de Bristol, Inglaterra, onde a amplitude das marés chega a atingir os 13 metros - só ultrapassada, em todo o mundo, pelas da Baía de Fundy e de Ungava, no Canadá.
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Tirei estas fotografias em Weston-Super-Mare, em Março de 1993. Alguns espíritos trocistas referem-se a esta estância balnear do norte de Somerset por Weston-Super-Mud, tal é a quantidade de lama com que deparamos. Lama esta que, de profunda, já tirou a vida a muitos incautos que tentam chegar à linha de água (muitas vezes a quase dois quilómetros da costa) caminhando; muitos também já ficaram com as suas viaturas destruídas por as conduzirem para além dos limites estabelecidos. Weston-Super-Mare é um centro turístico muito frequentado na época estival, sendo as suas maiores atracções o Pier, as carruagens de burros para transporte de turistas ao longo da costa e, por falta de outras, as suas praias.
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As imagens que se seguem foram registadas do outro lado do estuário, no porto de Cardiff, País de Gales, onde o cenário é igualmente desolador, mas belo. A saída e entrada dos barcos no porto têm que ser efectuadas a horas precisas, geralmente durante a noite. Aqui podíamos visitar o Welsh Industrial and Maritime Museum, agora trasferido para o novo National Waterfront Museum, em Swansea. A cidade de Cardiff tem como principal atracção o seu castelo e o novíssimo (e para mim ainda desconhecido) Stadium Y Mileniwm, Parc Yr Arfau, Caerdydd ou The Millennium Stadium, Cardiff Arms Park, Cardiff, palco dos principais eventos desportivos do País de Gales e por muitos considerado o mais belo estádio do mundo.
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Mas é a beleza inóspita do estuário do Severn que marca a diferença neste recanto costeiro da Grã-Bretanha. E num mundo em que as diferenças entre as paisagens naturais ou construídas não abundam ou se esbatem cada vez mais, é disto que a alma se alimenta.
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domingo, 28 de janeiro de 2007

Adega Novelense

Aqui Bem Se Come!
Guia para o bom garfo e a carteira leve.


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Encontrarão o Restaurante Adega Novelense na freguesia de Novelas, nos arrabaldes de Penafiel, sito na Avenida 25 de Abril. E será certamente um excelente encontro. O único logro de que serão alvo será certamente o de procurarem uma avenida... numa aldeia. A Adega Novelense está situada à beira da estrada municipal de acesso ao centro da freguesia, a duas centenas de metros da igreja. Nós encontrámo-lo porque aqui viemos a um encontro de coleccionismo, realizado na Junta de Freguesia local.
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Come-se muito bem e paga-se pouquíssimo nesta casa de pasto: casamento ideal para gente de boa mesa. Sete (7!!!) euros por costelinhas de vitela assadas no forno, acompanhadas de batatinhas assadas (caseiras, por certo, e com todo o suco das carnes) e de um magnífico arrozinho seco servido em travessa de barro. Tudo bem regado com um tinto maduro discreto da casa, que caiu muito bem. De entrada, comeram-se umas azeitoninhas deliciosas - com a acidez certa e amargura que baste - e umas rodelas de um paio de Sendim magnífico. Com broa de milho, claro. Comida caseira de primeiríssimo sabor! As carnes, segundo a dona da casa, tal como os enchidos, são todos oriundos da referida vila mirandesa. Metade dos meus amigos comensais alinharam pela alheira, e só disseram muito bem.
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Mas maior garante de como aqui bem se come é a clientela: na sua maior parte trabalhadores da construção civil, certamente em busca do melhor conforto digestivo para compensar a aspereza do trabalho. O algodão não engana!
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A Adega Novelense é uma casa humilde, como o serviço. E o cartão da casa é um mimo, como se vê.
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À mesa: O Domingos Ferreira e o afilhado, a Cristina Ponte e o pai, o Romeu Lopes e o Viandante.
Avaliação: 9/10
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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Cheiro a Terra

Da Memória

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A memória é assim: quando recordamos um momento ou algo sobre o qual já tenha decorrido muito tempo, na verdade, estamos a recordar algo que é mediado, editado - determinado pelo desgaste do tempo, os relatos que fizemos e ouvimos, a nossa volição, as fotografias que fomos revendo, os nossos valores em constante mudança... - ao ponto de, por vezes, já não ser verídico.
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O meu pai faleceu há mais de 25 anos, tinha eu 11. Do seu rosto, com muita amargura, creio já não ter nenhuma imagem pura. O que me resta é uma espécie de composição, resultante dos poucos momentos vivos que recordo e das fotografias que ficaram - não muitas. Na realidade, talvez a imagem mais fidedigna que dele tenha seja aquela com que me deparo todos os dias ao espelho. Assim o diz a minha mãe, com alguma verdade: sou a sua cara chapada - talvez também seja o coração dela a querer recordá-lo no meu rosto. Talvez. A passagem do tempo é assim.
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Regressámos de Moçambique em 1974, tinha eu 4 anos. Desses anos pouco resta: alguns objectos em pau-preto, dois baús em madeira trabalhada, um bote em borracha, algumas fotografias... pouco mais. Não posso dizer que tenha alguma memória desses 4 anos; tudo o que poderei contar será o que ouvi da minha mãe: a travessia do "rio Licungo, cheio de crocodilos", "o lacrau que te ia mordendo (ou mordeu?)" e que "o teu pai queimou em álcool", as "cobras que comiam as galinhas", "o Datsun que lá deixámos", o "maior palmar do mundo", "o carrinho em madeira que o teu pai te fez"... Na verdade, nenhuma imagem para além daquelas que ficaram registadas em fotografia.
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Mas a natureza humana é extraordinária: se há alguma coisa que eu consiga recordar, embora de forma inefável, intangível, é o cheiro de África, da sua terra. Não sei como é; não posso descrevê-lo... sei apenas que, do mesmo modo que sinto o bater do coração no peito, sinto, de vez em quando e cada vez menos, uma palpitação da memória olfativa (não sei como a descrever de outra forma) quando vejo imagens de África na televisão ou no cinema. Aconteceu-me de forma intensa ao ver Out of Africa, por exemplo. É uma memória maravilhosa - e esta, tenho a certeza, não está longe de ser pura.
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O bote de borracha que veio de Moçambique e usei até aos 18 anos.
Na praia de Macuze, Quelimane, e no rio Balsemão, em Penude, Lamego

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Bons Ventos de Espanha

Palavra Esparsa

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Como vem acontecendo quase todas as semanas de há alguns meses para cá, ontem desloquei-me a Salvaterra do Miño, Galiza, do outro lado de Monção, além rio Minho.
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Motivo: atestar o depósito de uma das viaturas cá de casa. O litro de gasolina estava ontem a €0,956 - menos cerca de 27 cêntimos que em Portugal. Poupança: €11,50 em quase 39 litros. Se contabilizar os 75 quilómetros da deslocação, ida e volta, a partir de Arcos de Valdevez, faço uma poupança real de cerca de 6 euros. Se tivesse ido com o outro automóvel, teria poupado 8, sensivelmente. Uma poupança média de 30 euros mensais em combustível.
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Perguntam-me: e justifica-se? Se fizer a deslocação apenas para este fim, talvez não. Como disponho de algum tempo (pois parte do trabalho é nocturno), presto-me aos quilómetros necessários e "estouro" a poupança no totobola e totoloto locais: La Quiniela e La Primitiva.
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Motivo para mais umas continhas: registo semanalmente 8 euros na Primitiva, o equivalente a 8 apostas (4 para o concurso de 5ª e 4 para o de sábado). Ou seja, 1 euro por aposta. Em Portugal, cada aposta no Totoloto fica-nos por 40 cêntimos. Bastante menos, poderíamos dizer; só enquanto não fazemos outros cálculos: se obtivermos 3 acertos em Portugal, amealhamos cerca de €1,50, em média; em Espanha, o prémio é sempre de €8,00. Não é preciso saber fazer a "regra dos três simples" para ver a diferença. E como se não bastasse, por cada boletim registado na Primitiva atribuem-nos um algarismo de 0 a 9 (chamado de Reintegro), gratuitamente. Se o algarismo sorteado for o que está registado no nosso boletim, devolvem-nos o montante gasto nesse boletim.
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Faço o preenchimento dos boletins numa cafetaria. Ontem pedi uma garrafa de água com gás, de tiempo (expressão muito mais bonita que o nosso "natural"). 90 cêntimos (mais 15-30 cêntimos do que pagaria em Arcos de Valdevez). Tinha os seguintes jornais à disposição: Hoy, Faro de Vigo, Marca, Sport e um jornal local de que não registei o nome). Ganho sempre uma hora a ler as notícias de nuestros hermanos e a aprimorar o meu castelhano. De vez em quando, saboreio uma das bolachinhas que nos colocam gratuitamente à disposição num cestinho de vime. Boas.
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Regresso a casa satisfeito. Sempre com a esperança de que a sorte grande me possa sorrir. Mais pobre, de certeza que não fico.
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terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Nós, sobre Miró

Instantes
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Mosaïc de Miró, Rambla de Sant Josep, Barcelona

Agosto de 2002

A Cláudia, a Esperança, a Nanda, a Paula, o Mateus, o Zé Maria e o Viandante

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Índice: Dezembro 2006/ Janeiro 2007

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Um mês de existência do Viandante e 35 posts publicados, cujos títulos aqui recupero, organizados por rubricas:

Poema do Mundo
- The Mother, 23/12/2006
- Poema do Alegre Desespero, 30/12/2006
- Canção, 10/01/2007
- Defesa de Peter Huchel ou Critério, 15/01/2007
Capas
- Rosto Irlandês, 23/12/2006
- Laranja Mecânica, 07/01/2007
Vianda
- As Rabanadas da Minha Mãe, 24/01/2006
- Perninhas de Frango com Vinho do Porto, 12/01/2007
Sublinhado
- Conversa na Catedral, 25/12/2006
Instantes
- Amendoeira... e Vinhedo, 25/12/2006
- Anoitecer Atlântico, 28/12/2006
- Amanhecer Alpino, 29/12/2006
- Olá!, 30/12/2006
- Busgalinhas, 09/01/2007
- Soleira, 15/01/2007
Histórias do Açúcar
- Sorte Grande em Nerín, Aragão, 26/12/2006
- Descobrimentos Portugueses, 05/01/2007
Andarilho
- Bank Holiday em Waterford, Irlanda (I), 27/12/2006
- De Mazouco a Freixo de Espada à Cinta, 04/01/2007
Palavra Esparsa
- Este País, 28/12/2006
- Ano Novo, Vida Nova?, 30/12/2006
- 2007, 01/01/2007
- DJ-ing, 03/01/2007
- Flags Of Our Fathers, de Clint Eastwood, 14/01/2007
- Vandalismo na Praça de Lisboa, 16/01/2007
- A Insustentável Leveza do Segredo, 21/01/2007
- Batota!, 22/01/2007
Lido e Relido
- Mais vale só peixe frito do que mal acompanhado, 29/12/2006
- Nova Iorque, 09/01/2007
- As palavras são assim..., 20/01/2007
My English Notes
- City versus Town, 02/01/2007
Grandes Letras
- Wreck on the Highway, 06/01/2007
Cartoonices
- A Rede, 13/01/2007
- Password, 18/01/2007
Vinhateiro
- Por uma Malga de Vinho, 19/01/2007
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segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Batota!

Palavra Esparsa
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O Presidente do Gil Vicente diz ter havido batota no processo que relegou o seu clube para a II Divisão de Honra.
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Um novo take da lusa comédia foi anunciado hoje, desta vez no âmbito da justiça desportiva: "aparentemente, a Comissão Disciplinar da Liga dá razão ao Gil Vicente ao mandar arquivar o processo instaurado ao clube por entender que não houve infracção disciplinar no recurso aos tribunais civis" (A Bola on-line).
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Agora digam-me: mas alguém pode levar este país a sério?
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Será que um país sem um sistema judicial credível tem futuro?
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Mesmo que os galos não tivessem razão, passaram a tê-la!
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E - cruzes, canhoto! - que a fortuna nos afaste dos meadros da in-justiça portuguesa...
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domingo, 21 de janeiro de 2007

A Insustentável Leveza do Segredo

Palavra Esparsa
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Se a qualidade de uma democracia se pudesse medir pelo seu peso, Portugal seria campeão mundial de pesos-pluma - país sem rival. Um país sem segredos é um país sem peso (económico, político, civilizacional...); é uma folha caída è mercê de todas as tempestades. É, numa palavra, vulnerável; e, por isso, de muito pouca confiança. Como uma menina de mini-saia, carece de mistério, de interesse - por muito atraente que aparente ser. Mais, para além de não transmitir seriedade, é ridículo.
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Portugal é um país ridículo.
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É a única conclusão que podemos extrair do que se passou esta semana: o excelentíssimo Procurador Geral da República diz não ter solução para o problema do segredo de justiça; e di-lo perante as câmaras de televisão, com uma leveza extraordinária - quase com um sorriso nos lábios. Disse-o como se fosse um facto consumado. E por isso, sem surpresa, foi divulgado na internet o Despacho que reabre o processo Apito Dourado. Mais um acto da lusa comédia.
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Um país que não é capaz de manter sustentadamente o segredo de justiça é um país insustentavelmente leve.
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Nota: acredito na sinceridade de Pinto Monteiro e nas suas boas intenções, mas, lamentavelmente, das suas palavras só podemos tirar duas ilacções:
- não é ou não se sente capaz de resolver o problema do segredo de justiça, e como tal devia dar o lugar a outro;
- acreditando ele próprio no que disse, não o devia ter verbalizado em público, pois pareceu legitimar a existência do problema.
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sábado, 20 de janeiro de 2007

As palavras são assim...

Lido e Relido
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As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjectivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos...
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José Saramago
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in Ensaio sobre a Cegueira, Caminho, 8ª Edição, p. 267.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Por uma Malga de Vinho

Vinhateiro
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Hoje, mais uma vez, almocei no restaurante A Floresta. Para quem não leu um post anterior, sito na vila de Arcos de Valdevez - certamente uma das mais bonitas do nosso Portugal (mas isso são outras andanças...).
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Gosto de almoçar na "planta baixa" d'A Floresta - uma sala com ares de casa de pasto: vigas de madeira no tecto, serviço saloio (sem carácter depreciativo), clientela de todos os estratos sociais.
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A sala estava cheia, pelo que a dona do estabelecimento me convidou a partilhar a mesa com outro comensal. Excelente! - pois não quero parecer morto, como o é, segundo Jean Baudrillard (ver post de 9 de Janeiro), todo aquele que come sozinho.
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O meu conviva era meu homónimo - soube-o pelo tratamento informal de que foi alvo por parte da patroa. E pela aparência, certamente trabalhador da construção civil. Pediu vinho tinto maduro; pedi uma cerveja - apetecia-me, como se estivesse no verão. Trouxeram-me a Sagres de lei, mas, como seria de esperar num estabelecimento do povo, não me mudaram o copo de serviço - vidro para toda a bebida. Pedi de imediato um copo de fino, obviamente.
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E como o silêncio entre dois comensais é contranatura, eis o móbil para a conversa que se seguiu - a que se juntou, minutos depois, um terceiro parceiro de talher: que copo ou recipiente para que bebida?
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A conclusão maravilhosa a que chegámos, e razão de ser deste post: o vinho verde tinto deve ser bebido numa malga.
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Temos dito!
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Concordaríamos em acrescentar: a ser verde tinto, que seja da casta Vinhão.
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Apontamento final: a este propósito, lembrei-me agorinha mesmo de um comentário de um aluno meu no ano lectivo transacto - qualquer coisa no género: "em minha casa só bebemos vinho em malgas; uma malga para dois; bebo da malga do meu pai, que está à minha frente; e a minha irmã da da minha mãe." Para alguns, ainda é assim no Alto Minho - para o bem e para o mal!
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quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Password

Cartoonices


- Criar uma nova palavra-chave?
- "Pénis".
- Desculpe! A sua palavra-chave não é suficientemente grande.
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Fonte desconhecida.
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terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Vandalismo na Praça de Lisboa

Palavra Esparsa



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Estava ontem empenhadamente a almoçar um arrozinho de cabidela de lei no restaurante A Floresta, em Arcos de Valdevez (onde se come sempre maravilhosamente por apenas 6 euros!!! Pois é - uma das muitas vantagens de viver no "campo"), quando ouço, de costas voltadas para o televisor, no noticiário da TVI, que A Praça de Lisboa, em pleno centro histórico do Porto, tinha sido completamente vandalizada.
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Esta fotografia da Praça de Lisboa foi tirada por mim do alto da Torre dos Clérigos, em 1992. No centro da Praça pode-se ver a estrutura que albergava um restaurante Pizza Hut (onde, no final desse mesmo ano, um conjunto de bons amigos se despediu de mim na véspera da partida para Bristol, Inglaterra, onde viria a passar uma temporada ao abrigo do programa Erasmus); ao lado, a esplanada do Café na Praça (creio que era este o seu nome), um Café-Restaurante trendy onde muitas vezes lia o jornal ao sábado à tarde e onde me lembro de ter passado muitos e bons momentos em tertúlia ou agradavelmente acompanhado.
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Terá sido por volta de 1995-96 que a praça começou a "morrer", quando algumas das lojas que aí se instalaram começaram a fechar. Outras abriram, mas sempre por pouco tempo, e nunca ocupando todos os espaços comerciais disponíveis. Desde então, já não vivendo no Porto, passei por lá muito poucas vezes e espaçadamente. A degradação do espaço tornou-se evidente de ano para ano, sobretudo pela falta de presença humana (creio que ainda terei jantado no Pizza Hut em 2002) - o que é difícil de compreender, estando esta tão bem situada; para quem não conhece, junto à Torre dos Clérigos, à belíssima Livraria Lello, à Praça dos Leões, ao Jardim da Cordoaria...
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Soube, há algum tempo atrás, do interesse da Federação Académica do Porto em aproveitar aquele espaço para criar um "Polo Zero" - creio que um espaço multifuncional para a comunidade académica, de estudo e lazer. Como onde há estudantes, há vida, e aquilo já tresanda a cadáver há muito, francamente, não sei do que estão à espera. Para mais, quando os novos polos da universidade afastaram os estudantes do centro da cidade.
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Quanto aos actos de vandalismo que me distaíram da saborosa perninha de frango, só se pode dizer que nada mais haveria a esperar. Quando se tratam os comportamentos proto-criminais com a leveza que a nossa sociedade lhes atribui, é bem feito. E como se costuma dizer, a feira ainda vai no adro - infelizmente. E outra: enquanto houver crime sem castigo, é isto que teremos.
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E como se não bastasse, ao chegar a casa para jantar (seria para me estragar o repasto nocturno?), também ouvi (na TSF) o nosso Procurador Geral da República dizer - creio que numa Comissão da Assembleia da República - que não tinha solução para o problema do segredo de justiça. Não tem solução? Então que ALGUÉM tenha!!!
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Para não me ir deitar com azia, recordo com agrado o almoço de despedida para Bristol no Pizza Hut da Praça de Lisboa. Bons tempos, bons amigos. Gostava de poder estar convosco mais vezes.
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segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Soleira

Instantes
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Agosto de 2005
Santillana del Mar, Cantábria
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Defesa de Peter Huchel ou Critério

Poema do Mundo

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Também ao verso é vedado
ser mais leve
que o seu peso

Reiner Kunze

Tradução de Luz Videira e Renato Correia, in Reiner Kunze, Poemas, Paisagem Editora, 1984

Nota: Peter Huchel foi um poeta proscrito das autoridades da antiga República Democrática Alemã, de que Reiner Kunze também era cidadão.
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Verteidigung Peter Huchels oder Kriterium
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Auch dem vers ist's versagt,
leichter zu sein
als sein gewicht

domingo, 14 de janeiro de 2007

Flags of Our Fathers, de Clint Eastwood

Palavra Esparsa
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Erguer da Bandeira em Iwo Jima


Ontem à noite tivemos a oportunidade de nos juntarmos a um grupo de amigas para assistir a uma sessão de cinema no Braga Parque. Por sugestão do grupo, vimos As Bandeiras dos Nossos Pais, de Clint Eastwood.
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Ao chegar ao átrio das salas de cinema, procurei o painel do filme: uma foto de dois soldados em contraluz, à entrada de um bunker. O título em Inglês chamou-me a atenção de imediato (não o conhecia): Flags Of Our Fathers. Por duas razões em particular: a ausência do artigo definido The, antes do substantivo Flags - de todo plausível; e, mais estranha, a opção pela construção of, em detrimento do genitivo (Our fathers' Flags, que seria mais expectável). Para quem não domine a nomenclatura linguística (o que é que este tipo está para aqui a dizer!) ou tenha conhecimentos mínimos da língua inglesa, não farão muito sentido estas observações. Mas podem crer que a tradução do título em português não faz jus ao original (da obra de James Bradley e Ron Powers, com o mesmo nome, de que foi adaptado o filme). Todavia, devo dizer que me parece ser difícil fazer melhor. É um dos tais casos em que os significados não são reproduzíveis em síntese - daí a singular riqueza das línguas. Em suma: o título original enfatiza o conceito os nossos pais e relativiza o conceito bandeiras - e inclusivé o seu carácter atributivo. O título em português parece reforçar este carácter atributivo (as bandeiras são dos nossos pais) e enfatiza o conceito as bandeiras, sobretudo pelo uso do artigo definido. E o mais importante é que esta diferença é da maior relevância quando visualizamos o filme.

E o filme?, perguntam-me vocês.
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Será suficiente dizer que o enredo tem como leit motiv a famosa (e controversa) fotografia tirada na Batalha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra Mundial, que introduz este post. E que uma fotografia em si pode contar uma história; mas que o mais extraordinário deste filme (e do livro, obviamente) é a história que se pode contar à volta de uma fotografia. E que talvez pudéssemos descrever o filme como um ensaio sobre o poder da imagem; ou sobre a hipocrisia do poder político; ou os traumas de guerra; o conceito de herói; a amizade...
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Vejam o filme! Clint Eastwood e o Óscar para Melhor Filme parecem andar de mãos dadas.
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sábado, 13 de janeiro de 2007

A Rede

Cartoonices

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- Atenção! Está cercada! Saia com as mãos no ar!
- Policiar esta internet não vai ser fácil.
- Meu sargento! Acho que temos uma pista!
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Fonte: The European, 16/04/1997
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sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Perninhas de Frango com Vinho do Porto

Vianda
De minha lavra
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Temperem-se oito perninhas de frango (ou quaisquer outras partes da saborosa ave) com uma hora de antecedência: algumas pedras de sal, meia colher de chá de caril, outra meia de colorau, pimenta preta moída no momento, uma amostra de piri-piri, dois alhos pequenos muito bem picados, uma folhinha de louro partida em pedacinhos, um fio de azeite e meio limão pequeno. Ah! E que não lhes falte uma mão cheia de carinho.
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A frigideira deve ir ao lume com meia parte de azeite e meia de margarina. Apenas o suficiente de cada. Juntemo-lhes as perninhas (com todo o seu tempero) e tape-se a frigideira com um testo durante a fritura, só o retirando para ir virando o frango; em lume brando (sempre lume brando) até se retirar o pitéu - porque não podem ficar tostadas sem que cozam devidamente.
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E o Vinho do Porto?
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O xeque-mate requer paciência. Entretanto, podem saborear um cálice da divina bebida - até porque abre tão bem o apetite...! Guardem apenas uns borrifos para o último minuto: sobre as perninhas, como se de uma bênção se tratasse. Virem-se e revirem-se. E está pronto. Apenas num minuto.
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E que bem sabem. Tanto, que pouco interessa a companhia. Arroz de espinafres? Umas fatias de pão de centeio? - Pão de centeio do bom, sim!
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E um bom vinho tinto maduro, claro.
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Bom apetite!
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P.S. Pensei em mostrar-vos uma fotografia do pitéu, mas arriscavam-se a babar o teclado do computador - o que seria um desperdício!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Canção

Poema do Mundo

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Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
- mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade

in Primeiros Poemas
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A minha querida mãe faz hoje 61 anos. Parabéns, .
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terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Nova Iorque

Lido e Relido

(...)
Mas uma determinada solidão não se parece com nenhuma outra. A do homem que prepara a sua refeição, sobre um muro, sobre o capot de um automóvel, ao longo de um gradeamento, só. Aqui vê-se isto por toda a parte, é a cena mais triste do mundo, mais triste do que a miséria; mais triste do que aquele que mendiga é o homem que come sozinho em público. Nada há de mais contraditório com as leis humanas ou bestiais, porque os bichos concedem-se sempre a honra de partilhar ou de disputar os alimentos. Aquele que come sozinho está morto (mas não aquele que bebe, por quê?).
(...)
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Jean Baudrillard
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in América, José Azevedo Editor, 1989, pp. 22-23

Busgalinhas

Instantes


Primavera de 2004
Busgalinhas, Serra da Peneda

domingo, 7 de janeiro de 2007

Laranja Mecânica

Capas
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A Clockwork Orange, de Anthony Burgess, é, indiscutivelmente, uma das obras primas do romance britânico e mundial. Não poucas vezes as capas ficam aquém do poder evocativo dos enredos ou - neste caso ainda mais relevante - dos títulos que encerram.
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Para quem não conhece o romance ou viu a obra prima cinematográfica de Stanley Kubrick, com o mesmo nome, o enredo centra-se na questão recorrente da natureza do Bem e do Mal: "What does God want? Does God want goodness or the choice of goodness?" Será que se pode tratar clinicamente um delinquente de modo a que ele passe a ser "bom"? Ou o ser-se "bom" mecanicamente é um acto desumano, por não ser genuino? Só será genuíno aquilo que resulta de uma escolha, do livre arbítrio. Será, portanto, o Mal genuíno, parte da natureza humana? E o Poder, de que modo o Bem e o Mal são parte da sua essência?
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Em suma: há solução para o Mal?... e para a corrupção do poder?
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Certamente não quererão que vos dê a minha interpretação da capa (Ilustração de David Pelham)... Deixo-vos, contudo, uma questão (que certamente terá múltiplas possibilidades de resposta): por quê as alças azuis?
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Li esta edição do romance, pela Penguin Books, (não datada) em Novembro/ Dezembro de 1992.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Wreck on the Highway

Grandes Letras
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Last night I was out driving
Coming home at the end of the working day
I was riding alone through the drizzling rain
On a deserted stretch of a county two-lane
When I came upon a wreck on the highway
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There was blood and glass all over
And there was nobody there but me
As the rain tumbled down hard and cold
I seen a young man lying by the side of the road
He cried Mister, won`t you help me please
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An ambulance came and took him to Riverside
I watched as they drove him away
And I thought of a girlfriend or a young wife
And a state trooper knocking in the middle of the night
To say your baby died in a wreck on the highway
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Sometimes I sit up in the darkness
And I watch my baby as she sleeps
Then I climb in bed and I hold her tight
I just lay there awake in the middle of the night
Thinking `bout the wreck on the highway
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Bruce Springsteen and the E Street Band
The River, 1980
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O renomado professor da Universidade de Harvard, Robert Coles, num livro publicado em 2004 (Bruce Springsteen's America, Random House), coloca o cantor de New Jersey no panteão dos artistas americanos, comparando-o a Walt Whitman e William Carlos Williams, e designando-os como "poetas do homem americano comum".
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Wreck on the Highway é apenas um dos exemplos da grande poesia que podemos encontrar em The River, seguramente um dos melhores álbuns da história da música. É um poema fácil, aparentemente sem grande trabalho estético. Haverá certamente quem questione a apreciação de Robert Cole, mas é inegável a forma magistral com que the boss canta o pulsar da vida americana: nas pequenas rotinas, nas paixões adolescentes, pela estrada fora... Poucos conseguem esquematizar de forma tão pungente e linear uma mundividência do americano comum. Poderia ter escolhido outras letras deste álbum, igualmente belas: a famosa The River, Point Blank, Drive All Night...
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Mas devo ressalvar este ponto: ao contário do que acontece com outros poetas-cantores, os poemas de Bruce Springsteen só ganham genialidade quando escutados, tal como sucede muitas vezes sermos tocados por um poema apenas quando o ouvimos declamado. Se não conhecem Wreck on the Highway e se são de elevada sensibilidade, preparem-se para um momento de grande comoção.
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Fiquem com esta magnífica fotografia de Bruce Springsteen and the E Street Band (também me apetecia escrever sobre ela, mas não vos maço mais), retirada do booklet do CD:
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sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Descobrimentos Portugueses

Histórias do Açúcar
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Esta história não precisa de ser contada por mim; podia ser narrada por qualquer de nós.
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Com muito orgulho, até poderíamos dizer que foram os portugueses a dar os primeiros passos para a descoberta desta doce substância: o açúcar.
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E enlevados pelo orgulho, até poderíamos arriscar esta tirada: "e inventámos o pacote de açúcar". Mesmo que não seja verdade (que não o é - o primeiro pacote de açúcar conhecido foi elaborado nos Estados Unidos da América), todos acreditariam em nós, tão grandiosa foi a nossa façanha dos descobrimentos.
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Para os meus amigos leitores (presumo que ainda poucos - mas certamente mais fiéis que o nosso delicioso amigo da Noruega) que não conhecem esta estranha modalidade de coleccionismo; para aqueles que já a conhecem e não lhe acham piada; para aqueles que até sabem que sou coleccionador de pacotes de açúcar e ainda não tiveram a amabilidade de me arranjar um pacotinho raríssimo; para todos vós (alguns, certamente, até acharão alguma graça a esta tontería) ...
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Para todos vós, dizia, lembrei-me hoje de digitalizar uma das mais belas colecções (nós, os tolinhos, chamamo-lhes séries) de pacotes de açúcar feitas até hoje em Portugal. É dos anos 80 e foi embalada na Sores - Sociedade de Refinadores de Santa Iria SA -, tendo os respectivos desenhos ganho o 2º prémio de um concurso de ilustração na comemoração dos 500 Anos dos Descobrimentos Portugueses. Existem outras duas séries relativas ao 1º e 3º prémios desse concurso (as 3 séries são embaladas pela Sores e pela Sidul - Sociedade Industrial do Ultramar -, ambas, hoje, nas mãos - grrrrr! - da Tate & Lyle).
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E como eu dizia... não precisa de palavras:
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Deliciosa, não é?
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Agora chamem-nos tolinhos!
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Se por acaso os meus amigos leigos (ou respectivos familiares, amigos e inimigos...) tiverem por aí algumas raridades como esta e estejam uns mãos largas, nem sabem a alegria que me dariam...
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Mais uma vez, doce 2007!
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quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

De Mazouco a Freixo de Espada à Cinta

Andarilho

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Para quem viaje por terras de Trás-os-Montes e Alto Douro e se acerque aos concelhos de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, e por meríssimo acaso dê de caras com este blogue, peço-lhe que considere este relato na escolha de um trajecto para passeio de automóvel. E se de bicicleta, ainda melhor.
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O percurso que noventa e muitos por cento dos passeantes toma quando passa por estas terras raianas é, se na direcção Torre de Moncorvo - Freixo, a estrada N220 e N221, ou por ordem inversa em direcção contrária. Pois calhou que, quando em Agosto de 1999 passei por estas terras durienses, talvez, ou quase por certo, inspirado pelo sublime repasto no restaurante O Artur, em Carviçais (e que merecerá por si só um relato neste blogue), o ânimo me desviasse da N221 para a estrada municipal que nos leva a Mazouco. Trajecto durante o qual tirei a fotografia que introduz este post.
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Acontece que não terá sido apenas Baco e a vinhaça do Artur que me desviaram da N221. Alguns anos antes tinha lido no Boletim (revista da Universidade do Porto) um conjunto de artigos sobre as gravuras rupestres de Foz Côa, em que se referia o Cavalo do Mazouco como a primeira das gravuras do Paleolítico Superior ao ar livre conhecida em Portugal. Daí que, ao deparar-me com a placa rodoviária de desvio para Mazouco, tudo se conjugou para que se fizesse luz.
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A aldeia de Mazouco está inserida no Parque Natural do Douro Internacional. A sua pacatez reflecte o isolamento a que esta zona do país (felizmente?) está votada. Ao entrar na aldeia, lembro-me de não ver quase ninguém nas ruas íngremes e estreitas. Também talvez porque, ali tão próxima, os seus habitantes tenham adoptado o maravilhoso hábito da sesta da vizinha Espanha.
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Foi-me fácil chegar ao núcleo de gravuras rupestres, seguindo um desvio até ao rio. A água, a poucos metros, apresentava uma cor escura, verde acinzentada. De imediato me chocou o facto de a parede xistosa do núcleo estar vandalizada com grafitos de adolescentes apaixonados, sem qualquer protecção. Felizmente que a gravura principal, a que os locais chamam de Carneiro (mas que os especialistas identificam como um cavalo) estava incólome. Segundo soube depois, dizem haver um tesouro escondido no local para onde o dito bicho está a olhar, o outro lado do rio:
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Mas o melhor ainda estava para vir: ao arrepiar caminho para voltar à aldeia, deparei com uma estrada em terra batida (estará hoje asfaltada?), à esquerda, direcção sul. Não me apeteceu subir as ruas íngremes e estreitas de Mazouco, pelo que resolvi tomá-la, sabendo que todos os caminhos levam a algum lado - e por que não a Freixo de Espada à Cinta?

A verdade é que não me lembro de alguma vez ter percorrido um troço de estrada ou caminho em que me tenha sentido tão em comunhão com o mundo. Percorridas poucas centenas de metros, parei. Sentia o meu Micra a mais naquele espaço natural. Desliguei-o e caminhei um pouco a pé. O silêncio era intenso, tirando o restolhar da brisa ligeira nas árvores que cresciam junto ao rio (oliveiras, cerejeiras e choupos, creio). O sol de verão aconchegava a alma. Viam-se alguns barcos ancorados num pequeno braço de rio. Apenas uma casa ou outra, sem ninguém que se visse poder estar a habitá-las. Disse para mim que, se pudesse, construiria ali uma casa pequenina para poder desfrutar do paraíso alguns dias por ano...

Retomei a viagem, lentamente. A estrada afastou-se do rio - e o sentimento de plenitude com ela. Cheguei a Freixo de Espada à Cinta... Realizado.

Notas:

Mapa retirado (e adaptado) de http://www.mapquest.com

O Boletim a que fiz referência é o nº 25, de Junho de 1995

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

DJ-ing

Palavra Esparsa
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Dizem que o meu irmão gosta de dar música ao pessoal. E não existe verdade mais verdadeira: trabalha numa das maiores discotecas do país, em Ofir, onde é DJ residente. Mas também faz uma perninha aqui e acolá quando o dinheiro canta alto (para uma boa voz, boa música, está-se bem a ver!). Actua no estrangeiro três a quatro vezes por ano, mas aí só para tenores, ah, ah, ah!. Já esteve em Ibiza, Granada, Miami, Paris, Middlesborough, Liverpool (já ouviram falar do festival Creamfields, o maior do Reino Unido? Não? Pois, meus amigos, há que entrar na onda...!).
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A minha mãe gostava que ele tivesse uma profissão. Anda sempre com o coração nas mãos, a pensar que se ele perde o emprego, que se fica doente, que isto e aquilo, que isso não é vida, filho!... que... que... se... se..., vira o disco e toca o mesmo... E tem alguma razão, a minha mãe; mas a vida tem destas coisas: pratos, faixas, batidas, misturas, batidas, misturas, som, luz, batidas, misturas...
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E remisturas... Gosta de marcar o seu próprio ritmo, o meu irmão.
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Quando o meu irmão me diz que não tem paciência para ler e eu o tento convencer de que não sabe o que perde, responde-me que prefere construir ele a sua própria narrativa...!!! Profundo, hem? Faz jus ao seu nome: DJ Nelly Deep - o meu irmão.
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Luzes!
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Som!
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... dancemos...
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Esta tentativa de DJ-ing textual é um brinde ao meu irmão, que hoje faz anos. Cheers, mano! A minha amiga Ana Helena também apaga velinhas hoje. Com certeza se entreterá com outras danças... Que sejam boas, amiga. Beijinho.
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Ah, já me esquecia:
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terça-feira, 2 de janeiro de 2007

City versus Town

My English Notes

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Wells, Somerset, Inglaterra.

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Quando aqui estive, em 1993, um casal que me acompanhava informou-me, com bastante orgulho, que Wells era uma cidade. "Uma cidade?", perguntei algo incrédulo, pois Wells contava então, tal como agora, com cerca de dez mil habitantes, o que para os padrões britânicos equivale a uma nossa aldeia grande. E era pouco mais do que isso que parecia ser. Yes, a city! It has a cathedral! It's the smallest English city!, responderam-me entusiasmados.

Este intróito para abordar a questão que muitas pessoas me colocam - e não apenas os meus alunos - sobre o uso das palavras city e town, ambas traduzíveis em português por "cidade".

Ora, para abreviar a resposta, costuma dizer-se que uma city é maior e mais importante do que uma town. O que está correcto, sobretudo se estamos a falar dos Estados Unidos da América. Contudo, se falamos do Reino Unido, esta explicação pode fazer com que não bata a bota com a perdigota.

No Reino Unido, uma city geralmente tem (tinha, será mais apropriado) uma catedral diocesana. O problema é precisamente o advérbio geralmente. Tal como Wells, cidades pequenas como Ely, Truro e Chichester, todas com menos de 25 mil habitantes, têm catedral e são cities. Têm em comum o facto de serem cidades com origens remotas no tempo. Mas há cidades sem catedral que atingiram uma dimensão e uma importância grandes e são hoje designadas por cities, como Leeds, Sheffield e Cambridge.

Para complicar as contas, há burgos com catedral, como Chelmsford, que não são cities, e há centros de maior dimensão, como Reading e Blackburn, que também não o são. E ainda temos cities que tiveram catedral e já não a têm, como a lindíssima Bath, e que ainda são cities.

É caso para dizer, como um ilustre jornalista já falecido diria com um sorriso nos lábios: "E esta, hem?"

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Nota:

Para uma explicação mais detalhada, por favor consultar a seguinte página da Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/City_status_in_the_United_Kingdom

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

2007

Palavra Esparsa
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Há sempre o risco de que um blogue seja visto como uma "feira de vaidades". Tanto como num livro, numa carta a um jornal ou na organização de um evento (e em inúmeros outros actos da vida humana), o ego nunca está completamente ausente. Tenho isso bem presente sempre que edito um qualquer texto.
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Mantenho este blogue com um objectivo central: a de que seja um repositório das minhas memórias e opiniões. Particularmente as que resultem das duas experiências de vida que mais prazer me dão: estar à mesa e viajar; concomitantemente, a de conviver com os que me são próximos e com todos os que vou conhecendo nas minhas andanças.
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Paralelamente, pretendo dedicar um pouco deste espaço virtual aos modos de lazer que contribuem para definir aquilo que sou e a forma como vejo o mundo.
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Estabeleci como propósito para este ano manter o mais interessante possível este espaço, de modo a que aqueles que por aqui passem, intencionalmente ou por mero acaso, encontrem algo de significativo para si. É isso que procuro quando visito outros espaços semelhantes.
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Mas antes que tudo, deve ser significativo para mim. Tal como o é um diário.
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Um bom 2007!