sábado, 18 de fevereiro de 2012

Périplo 2011, Eslovénia - Dia 8: Petingas em Izola

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Deixámos Veneza torturados pelo ardor das picadas de melga, mas nada podia aplacar a expectativa de entrarmos na Eslovénia. E Izola, na minúscula faixa costeira da Ístria eslovena, foi o melhor local possível para nos receber.
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A escolha da Eslovénia como destino destas férias deve-se muito ao meu amigo canadiano, professor universitário aposentado e parceiro de coleccionismo, Tom Priestly: teve a gentileza de me facultar um roteiro à medida do tempo de que podíamos dispor e do seu conhecimento aprofundado deste país entre os Alpes e os Balcãs.
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A entrada na Eslovénia pela fronteira de Trieste foi um choque visual. A paisagem suburbana das cidades italianas, degradada, vasta, de cor de tijolo e castanho desbotado prevalecente, contrasta profundamente com as vilas e cidades de pequena dimensão e arquitectura uniforme de uma Eslovénia predominantemente rural. 
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Não tivemos dificuldade em estacionar no centro de Izola, ao contrário das previsões do Tom (embora tivesse razão, como constataríamos no dia seguinte, em Piran). Encontrámos uma atmosfera relaxada, com turistas quanto baste para dar vida à localidade sem a descaracterizar. Começámos da melhor forma um passeio lento: numa banca de fruta apalpámos os preços e aumentámos as reservas para dois ou três dias. O colorido destas bancas alegra-nos sempre o dia, seja onde for. Em pouco tempo chegámos à praia local, que contorna a mini-península que é Izola. Praia é um termo abusivo, pois areia é coisa que o Adriático não nos oferece tão a norte. Mas a água, meus amigos!, a água estava tão boa que não pude resistir à promessa de nos quedarmos por ali um ou dois dias para uma banhoca morninha. O difícil seria encontrar um camping à beira-mar (o que evitamos sempre), mas a Lili não me deixou esquecer a promessa que lhe havia feito à partida de Portugal: um ou dois dias de água e sol, se houvesse oportunidade.
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Numa secção da praia deparámos com algo pouco comum - na verdade, nunca o tínhamos visto: um conjunto de estruturas adaptadas para um grupo de banhistas e veraneantes especiais, a desfrutar ostensivamente daquele clima acolhedor. A deficiência, por estas paragens, não é mesmo um obstáculo para a felicidade.
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A hora de almoço conduziu-nos por entre as ruelas de Izola até uma esplanada virada para o pequeno porto. Ou seria mais a sede, pois tínhamos comido alguma fruta uma hora antes e a temperatura pedia uma cervejinha local. Mandámos vir o que nos pareciam as nossas petingas a serem devoradas como tremoços numa mesa próxima. Pareciam menos fritas, menos morenas, mas não enganavam. O funcionário simpatiquíssimo que nos atendeu descreveu-as como anchovas, mas tínham um ar tão português que arriscámos. Nem queríamos acreditar! Dois tiros certeiros: eram mesmo petingas e a loiraça que mandámos vir era de meio litro! Uma Union deliciosa, eslovena pura, mais cereal que as últimas que prováramos em Itália (para além da já referida Moretti: Peroni, Nastro Azurro e Splügen - Angelo Poretti) que escorregou tão bem que precisou de companhia. E também repetimos a petinga! Fresquíssimas!
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Durante a tarde procurámos um camping e acabámos em Lucija, nos arredores de Portoroz - uma estância balnear renomada e apinhada, mas nem por isso desagradável. O Camping Lucija acolheu-nos com simpatia. Os alvéolos estavam demarcados, mas tinham o piso em areão. Chegámos na hora certa, pois pouco depois o camping encheu e ficámos rodeados de grupos de jovens eslovenos, húngaros e eslovacos expansivos. E bebiam que se farta! Um espanto!
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Num supermercado próximo fizemos algumas compras hesitantes: os preços eram pouco simpáticos (em média, cerca de 30 a 40% superiores) para um país com um nível de salário médio inferior ao nosso. Seria por estarmos à beira-mar? Jantámos uma carninha de vaca estufada, acompanhada de um vinhito italiano. Fraquinho, fraquinho, se comparados com a almoçarada em Izola!
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Nota do dia: os avanços tecnológicos da humanidade são extraordinários; tudo muda tão rápido que perdemos a noção das transformações que se operam à nossa volta, mesmo em aspetos aparentemente irrelevantes: no supermercado pagámos com cartão de débito; mal tinha acabado de precionar OK, após a introdução do PIN, e o recibo já saltava da máquina. Garantidamente em dois ou três décimos de segundo!
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Conta-quilómetros: 2865 (222 nesta etapa)
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